quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A PERMANENTE BUSCA DA IDENTIDADE NA CRIAÇÃO DO PSL

Esta é uma questão que deve nascer anteriormente ao surgimento do “sonho” de criar o melhor cavalo do mundo, o Puro Sangue Lusitano.
Esta raça é a melhor nos dias de hoje devido ao seu custo/benefício e a abertura dos mercados internacionais, permitindo produzir um cavalo “globalizado” e reafirmo isso com mais veemência, 6 anos depois de termino do livro “Apontamentos Eqüestres aonde afirmei: “Considero o PSL o cavalo do século XXI, em virtude de suas características ímpares, tanto como cavalo de sela quanto de Toureio. Os cruzamentos de Cavalos Lusitanos com outras raças, como o PSI ou cavalos de origem alemã, resultam em excelentes cavalos de esporte. No Brasil, incontestavelmente, o cruzamento do rebanho nacional com o cavalo PSL irá reverter a situação de falência zootécnica de algumas raças e possibilitar a melhora de um enorme rebanho sem registro, dito SRD – bem mais que 50% do rebanho nacional – ou mesmo o cruzamento com cavalos mestiços de outras raças – com registros em Stud Book’s – originadas do cavalo português. Este será o cavalo comercial para a grande maioria dos cavaleiros e amazonas do Brasil e do mundo neste novo século, em virtude de sua características ímpares” Aproveito e uso também aqui para realçar o pensamento, palavras de um dos maiores pensadores e criadores da raça Fernando Sommer d’ Andrade, numa carta escrita em 1977 – “ Nos cruzamentos, basta uma pitada de sangue Lusitano para conferir uma boa cabeça (psique) – a morfologia e o tamanho virão de cruzamentos judiciosos com cavalos ingleses ou alemães”. Por outro lado na mesma carta, ele afirma: “ trabalhar sem titubeios para a unificação do tipo. Sem uma raça definida, não conseguiremos nos afirmar no mercado internacional” . Claramente temos aqui os dois caminhos a seguir.

O cavalo PSL obrigatoriamente terá de ter um tipo. Sabemos que existem os sub- tipos, como Veiga, Andrade, CN, Alter, Quinas. Na década de 90 o sucesso obtido por alguns criadores foi devido ao F1, Veiga/Andrade, o que trouxe bons cavalos de função, naquele tempo, inclusive ganhando múltiplas exposições seguidas. Nesta década assistimos ao surgimento do tipo “Dressage”, um cavalo apenas comercial, sem maiores vínculos com a raça, podendo este mesmo produto ser um animal de características “warmbloob”, quer dizer, sem finura. O que se nota entretanto é o surgimentos de cavalos de maior porte, com registros no PSL e “carroceiros por natureza” por ter-se selecionado animais para chegar a este estágio, sem maiores virtudes (apenas por altura), utilizando-se de algumas matrizes aonde não conhecemos a sua procedência depois da terceira geração, o que para uma raça dita “pura” é muito pouco tempo. Certo é que o livro do PSL foi fechado já tem três décadas e precisaremos de mais outras para consolidar o tipo, no mínimo mais 50 gerações.

Recentemente fui forçado a rever os meus conceitos; minha origem foi no cavalo de esporte, criei cavalos BH nos anos 80 e 90, muitas vezes acreditava ser os cavalos maiores os melhores, mas quando os montava, gostava mesmo era dos de menor porte. Esta experiência a vivi na Coudelaria do Castanheiro. Montar um garanhão como o Distinto (MAC) e depois montar outro como o Hippus (AD), estava montando duas raças distintas de cavalos. Reparem que falo de dois ícones da raça e dois tipos distintos. Certamente não falarei de Malmequer (BN) (esse um cavalo com uma história muito grande, que em nosso país não teve a sorte nos cruzamentos), mas como cavalo, deu-me a sensação e a percepção do que seria chegar perto de um cavalo com todas as características de um bom Lusitano e sua limitações. Outro cavalo importante, foi Parágrafo do Top, como cavalo e garanhão, reafirmando a grande participação no criatório nacional de Afiançado de Flandes e mais recentemente o Portugal, Quieto, Luar e Quilate, todos intimamente interligado em sua projeção como garanhões. Existe no Brasil hoje uma diversidade, baseada na qualidade desta raça, faltando apenas a expertise da utilização destas variantes genéticas.

Este é um exemplo do que precisamos unificar, a superação física e a energia dos Branco Núncios (tipo Malmequer) , a estrutura morfológica de um Hippus, um Andrade (um cavalo belo, mas muito carroceiro, por ter pelos em demasiado nos boletos, garupa dividida e crinas espanholadas), a nobreza absoluta de um Distinto “Veiga Coimbra” (não conheci cavalo mais nobre e doce em minha vida) e Parágrafo do Top por sua docilidade, mobilidade e montabilidade, entre outro, a finura de linhas e a flexibilidade de um Quieto (MAC), os andamentos cadenciados de um Portugal, a força de um Luar e seu poder de explosão, a solidez aliada a um poder atlético de um Quilate, a espetacular vontade de trabalhar de todos os filhos do Urque, a rusticidade de um Afiançado, entre outros tantos. Este conjunto, é o cavalo PSL e tudo isto terá de ser preservado, unindo-se outros fatores puramente zootécnicos, como estrutura de membros e aprumos, fator este importante para a longevidade de qualquer cavalo, detalhe este a ser perseguido constantemente para que não danifiquemos a credibilidade zootécnica de uma raça em busca de sua identidade globalizada.

Para evitar problemas, sempre busco cavalos já falecidos, mas perante o “modismo” do momento, a qual não acredito ser correta conduta, está-se buscando cavalos sem finura, focalizando nos andamentos exclusivamente o trote (todos nós sabemos que o trote é o único andamento que podemos fabricar num cavalo, se ele tiver uma boa conexão de rim e corvilhões que suportem o esforço) o tal do “Peralta dos Pinhais”, filho de Hipólito, cavalo que inclusive tive a oportunidade de o comercializar, preferindo na altura outro cavalo, quando o mesmo tinha 4 anos, antes de ser exportado para Portugal. Este é o cavalo que irá fazer um estrago enorme na criação do PSL, porque ele está fora dos padrões da raça e falta-lhe o principal, finura. Incansavelmente venho perseguindo seus filhos no Brasil na busca de reverter o meu julgamento, mas ainda não tive a felicidade de o fazer, como o tive com os filhos do Quilate e ele mesmo. Quanto ao Peralta, afirmo estas observações porque lembro-me dele potro quando o montei, quando o mesmo galopava o chão tremia, era pesado, não era um cavalo airoso, leve, flexível, depois já montado na Europa esta imagem mudou, mas só DEUS sabe o que fizeram com o cavalo. Enfim, mais uma vez o trago à baila por ser um cavalo Brasileiro de renome internacional, um modelo atraente de cavalo, uma base interessante para formação de éguas, as quais permita-se colocar nelas mais finura. Um cavalo deste gênero e tipo, em qualquer exposição terá obrigatoriamente de ser “cerca”, aliás como sempre foram todos os animais pertencentes ã família do mesmo, tanto de Hipólito quanto de Cenoura. Deixo claro que semana passada, defendendo um filho deste garanhão quase fui fuzilado, muitas vezes faço o papel do advogado do diabo, visando entender o outro lado.

Chagamos ao ponto, temos de preservar o cavalo Puro Sangue Lusitano na sua essência, nas definições colocadas muito “superficiais” no Stud Book da raça, igualando-o a outras raças. Não falo do cavalo “barroco”, mas sim de um cavalo bonito, com conexões perfeitas, cabeça típica, com uma tamanho de dorso que permita a colocação de uma sela e permaneça flexível e que a mesma não lhe cubra os rins, uma garupa longa e profunda que tenha suas linhas inserindo sobre dois corvilhões fortes e bem plantados e ligeiramente fechados, quando em movimento não mostrem vacilações laterais de modo algum, boletos bem divididos e secos mas fortes com quartelas de comprimento médio, com cascos bem delineados. Já a sua frente, terá obrigatoriamente de ser alta e leve. Depois de tantos anos, o pescoço do garanhão Distinto ainda é o meu modelo de pescoço ideal (prestem bem atenção, falo em Distinto porque foi na história do cavalo PSL o único garanhão a ganhar em Lisboa em 1992 o prêmio de Campeão dos Campeões por unanimidade), e a frente dele certamente é um modelo a ser reverenciado. Este cavalo descrito acima, será responsável por chegar ao mercado para preencher 80% dos pedidos de bons cavalos desta raça para servirem de montaria para amadores mundo a fora. Os outros 20%, serão cavalos de Toureio (2%) e de Dressage (18%).

No nosso ver é bem mais fácil, chegar ao mercado de “Dressage” buscando-se através do cruzado, que tentar mudar uma raça milenar. Muitos estragos já foram feitos e não podemos permitir que isso venha a acontecer. De certo na perseguição da perfeição no PSL chegaremos ao bom cavalo de Dressage, mas este será um achado, pelo menos nos próximos 10 anos. O meio sangue é o cavalo que abrirá as portas da alta competição, falo provas acima de St. Jorge, aonde precisa-se do trote e suas variantes, aonde o Piaffe não poderá matar a passo e as passagem aproximadas ao galope precisarão de cadência e retitude, sendo assim um bom galope é indispensável.

Os caminhos estão claros, há que ter coragem e conhecimento para persegui-los e buscar através do bom trabalho com base nas quatro fases da produção de cavalos, genética/manejo/performance/marketing os resultados individuais.

Outro grave problema em nosso país é a equitação aplicada aos produtos de elite. Um verdadeiro tormento, um problema sem solução se continuarmos trazendo para este país quem não interessa. Temos de ter claro o que é marketing e o que é verdade. Pelo tamanho da ignorância generalizada no meio e a falta de vivência, nossa analise está ficando turva. Temos de estar seguros no que interesse e de certo a influência nefasta da equitação ibérica não mais interessa como base de uma escola, mas sim parte dela.

Tive um mestre que me ensinou a ver todas as escolas, ele chama-se Nelson Pessoa. Ensinou-me que a base de tudo é a Escola Francesa e ai criaremos nuance, do western à rigidez alemã. Certo tipo de cavaleiros não interessam, principalmente os portugueses e os espanhóis, uma verdadeira perda de dinheiro e tempo. É nesta questão que digo existir a mentira deslavada e por sentir a dor quando ando por ai e nada poder falar, solto os cachorros aqui. Digam-me com franqueza, para que serve um Juan Manuel Monoz, com todo o respeito a seus feitos no WEG, o que este pode-nos dar de eficiente, já que seu cavalo, além de brilhante nos ares artísticos, nas bases e morfologicamente, o tal do Fuego, não funcionou. Não podemos mentir para nós mesmo, esta é pior da mentira.

Para piorar, anuncia-se a clinica do amigo Paulo Caetano para Abril de 2011, pessoa a qual tenho um grande respeito como criador e cavaleiro de touros. O que este nobre homem poderá nos trazer de novo, a experiência de seu cavalo Útil, realmente um conjunto interessante com sua filha, mas fruto de largo investimento.

Precisamos sim unificar o tipo, mas o tipo de tudo, tanto de cavalos como de cavaleiros. Outro dia falei com um grande investidor de cavalos de Dressage e criador de nada mais do que Solar, Xama e Peralta dos Pinhais, por acaso todos com a mesma mãe e lhe pedi para seguir esta linha preconizada e defendida. No meu pouco conhecimento tenho dois nomes os quais acredito serem de grande valor em termos globais, a Kira e um jovem cavaleiro de nome Stefan Wolff, este último residente na Califórnia e aluno por mais de 15 anos do renomado Klaus Balkenhol. Este cavaleiro recebeu a herança de Nuno de Oliveira através de seu filho João, ele monta cavalos PSL da forma exata, sabe respeitar as deficiências d a raça, tanto físicos como de andamentos e tem a eficiência da equitação alemã competitiva, inclusive participa ativamente do livro de Balkenhol – The Man and his Methods. Porquê um nome como este é importante? É jovem, numa carreira crescente, com fortes ligações com o mundo esportivo, de incrível sucesso na região aonde atua e que de certo poderá definir uma linha de ação num trabalho periódico a custos menos pesados para o sistema.

Clinicas de final de semana, está comprovado que em nada ajudam, pelo contrário, investem contra a criação do método e destroem o conceito. Criando uma regularidade de trabalho e definindo-se O TÉCNICO, será a única forma de termos alguma chance de sucesso nos anos que se apresentam na nossa frente. Como todos sabemos em nosso país, tudo o que nos falta é o conhecimento, mas acima de tudo o conhecimento focalizado nas nossas dificuldades e projeções focalizadas na modernidade das competições Pós Totilas.

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