domingo, 20 de fevereiro de 2011

Entrevista Neco Pessoa

OS PISOS da HÍPICA

Temos hoje a “José de Verda “ e o “ Eloy Menezes” com o piso Tubin & Clèment, aprovados pelos cavaleiros e amazonas que saltaram no Athina e, também, por todos que os têm usado até hoje. Mas a antiga e boa receita da “areia de fundo de rio lavada” talvez acrescida de um ou outro material novo, me parece a mais indicada e econômica.

O QUE FALTA É PREPARAÇÃO!

Como é essa sua relação de vir de vez em quando ao Brasil? Sempre fiz e gostei de fazer clinicas. Fiz bastante aqui no Brasil, no passado, mas atualmente não vinha fazendo muito por falta de ter uma pessoa que organizasse, fazendo os contatos, o local e tudo mais. Agora venho tendo uma relação muito grande com o Sergio Stock, que tem ido montar conosco na Europa e se interessou em desenvolver isso. Como faço muitas clinicas por ano nos Estados Unidos e Europa, vir ao Brasil foi uma coisa boa, porque aqui revejo meus amigos, é a minha língua e posso passar experiência e esse ensinamento àqueles que querem.

Por que a opção de morar na Europa? Hoje em dia, a equitação no Brasil, digamos profissional, está bem evoluída e tem uma atividade bastante grande. Mas 40 anos atrás não tinha nada. O esporte era diletante. Aqui no clube (Hípica Santo Amaro) tinha meia dúzia de cavaleiros, outros poucos na Hípica Paulista, na do Rio de Janeiro etc. Nos anos 60, não se podia permitir viver dos cavalos. Aliás, o profissional não tinha acesso ao clube. O cavaleiro profissional nem sequer tinha acesso às instalações sociais do clube. Então você vê que era impeditivo. Hoje não, esse conceito terminou com os jogos olímpicos lá nos anos 80; hoje é mais profissional.

Podemos apontar que a falta preparo do cavalo no Brasil é o principal obstáculos? Sim, nós temos, bastantes, mas os cavalos que nós expomos no País não estão no nível ainda dos grandes cavalos mundiais. Não há duvida nenhuma, não tem ninguém que discute isso.


Qual a sua avaliação do cavalo Brasileiro de Hipismo, por exemplo? Temos uma criação que estáregular, de boa qualidade. São cavalos de uma origem, mesmo sem serem a top internacional. Mas está faltando alguma coisa na preparação dos cavalos. Tem algum caminho que não está funcionando bem, porque há muitos cavalos nascido aquí que foram para o estrangeiro e se desenvolveram; os cavalos que ficam não se desenvolvem. Tem cavalos que foram para Colômbia, Venezuela, México, Europa e se saíram bastante bem. Agora todas as nossas equipes não são compostas por nenhum cavalo nascido, criado e treinado aqui.

Poderia apontar um problema, aqui no Brasil, na questão da preparação dos cavalos? De forma geral, é um pouco a aceleração, muito apurado o desenvolvimento do cavalo. Há muita competição e isso submete o cavalo a um esforço prematuro.

Pelo que o senhor diz, os cavalos estão entrando em competições muito precocemente, sem antes ter uma experiência. Isso é um problema do Brasil? Não tanto a competição, mas treinamento excessivo para o cavalo. O cavalo de cinco, seis anos, basta ele treinar pela altura que ele compete, 1m20, 1m30, mas aqui vejo as pessoas puxando os cavalos demais. Isso é uma observação geral e todo mundo concorda com isso. Agora cada um faz com o seu cavalo que quer. Não posso proibir de treinar o seu cavalo demais, não podemos.


Falta então, de forma geral, treinadores qualificados no pais? Eu diria isso. Todo mundo diz isso, é um fato reconhecido, mas ninguém superou ainda essa barreira. O que se poderia fazer eu não sei. Proibir o cavalo de saltar muito, proibir o cavalo de saltar alto? Não sei, porque, afinal cada um age com o seu cavalo da forma que quer. Mas é uma pena, porque seguramente está se perdendo muitos cavalos.

O senhor também já criticou a falta de qualificação na formação de professores? Bom, aqui no Brasil todo mundo dá aula. Tem mais professores do que alunos. Como resolver isso? Os responsáveis têm que sentar em torno de uma mesa, confirmar esse diagnóstico e tomar uma iniciativa. Nós não temos nenhum professor que tenha uma formação, uma experiência. Não sei, eu não conheço todos os professores daqui, mas se perguntar: aprendeu com quem? Com ninguém! De onde veio? Do Mato Grosso, da selva ...... Ah, senhor é índio? Não, professor de equitação. Muito bem (risos). Na Europa, tem escola para isso. Tinha que ter mínimo um critério, da pessoa apresentar um currículo. Mas aqui não precisa nada disso.

Quer dizer que qualquer uma pode dar aula? Sim, e digo isso mesmo para as crianças, que é ainda mais perigoso. Temos visto no passado casos de acidentes fatais com crianças, porque falta prudência, falta escola.

O senhor foi formado na escola dos militares. Faz falta isso hoje? Faz, claro! Há 50 anos dizia que equitação praticada aqui era, em geral, melhor do que hoje em dia. Para cinco cavaleiros daquela época, hoje existem 500. O numero cresceu muito. Entretanto, entre os anos 50 e 60, nós fomos para Europa e tivemos resultados internacionais com cavalos nascidos e criados aqui, o que não acontece hoje. Os cavalos nascidos e criados no Brasil, se vão para Europa não conseguem resultado nenhum. Nos anos 50, o General Eloy, o Coronel Renildo, foram 4º lugar na Olimpíada; ganhamos a Copa da Nações com quatro cavalos brasileiros nascidos, criados e treinados aqui. Hoje em dia isso poderá acontecer porque temos todos cavaleiros criados e formados na Europa, com cavalos europeus também formados na Europa.

A Europa evolui ou nós que regredimos? Creio que os dois.


A questão econômica não é uma grande dificuldade para os cavaleiros se manterem aqui? A baixa premiação, por exemplo? Ok! A baixa premiação é sempre a mesma. Na Europa as pessoas também reclamam da baixa premiação; a premiação pode ser sempre maior. Agora, a premiação maior ajudaria no treinamento dos cavalos também? O que iria modificar? Ao contrario, iria prejudicar, porque iriam forçar os cavalos mais ainda. Não acho que isso é explicação, não. A baixa premiação é lamentável sobre todos os aspectos, mas ela não ia fazer o nível dos cavalos aqui aumentar.

O que falta é conhecimento técnicos? O que falta é preparar mais os cavalos e não forçá-los tanto.

É uma questão cultural? No fim do ano passado pessoas daqui mesmo reclamaram. O Carlos Johannpeter escreveu um artigo criticando a maneira de preparação dos cavalos para os campeonatos de cavalo jovem. É uma coisa notória, não sou eu quem está dizendo; minha participação apenas é uma a mais.

Essa dificuldade em preparar os cavalos é particularmente nos cavalos de Salto e hipismo ou em outras modalidades também? Não posso dar muita opinião nas outras modalidades, mas no salto, sim. Agora, no Concurso Completo nosso cavalo ainda está muito fraco. É uma modalidade na qual o ensinamento é mais importante que o Salto, e daí eles sofrem demais e vão muito mal. Vimos nas ultimas quatro olimpíadas as mesmas coisas: saem em últimos lugar no adestramento, fazem zero falta na prova de salto, mas é muito tarde e não conseguem recuperar mais.


Quer dizer que precisamos melhorar no adestramento? Vamos citar um exemplo: eu não tive a opção de levar muitos cavalos para a Europa, mas levei um potro daqui de dois anos e meio, filho do Baloubet, nascido aqui. Ele está agora com seis para sete anos e é um dos cavalos mais proeminentes que existem lá. Se estivesse aqui já estaria competindo, Lá está se adestrando, se formando fisicamente e se tornando um atleta. Se estivesse aqui acredito que já tivesse feito 50 provas e não teria chance. Acho que ele vai ser um cavalo do nível do Baloubet. Mas isso leva tempo. Rodrigo o montou uma vez no ano passado. Agora está sendo montado por jovens cavaleiros que trabalham comigo, feito provas da direita, esquerda, até atingir a idade de sete/oito anos.

Essa ansiedade se faz pela necessidade de se fazer os investimento virar lucro? É falta de cultura. É falta de as pessoas sentirem que isso faz mal aos cavalos. Estão fazendo uma coisa que está prejudicando a eles mesmos e aos cavalos. Os juízes dizem a mesma coisa, mas ninguém toma as providências que devem ser tomadas.

Como deve ocorrer a integração entre cavalos e cavaleiros? A integração deve ser feita entre os quatro e oito anos e de forma tranqüila, deixando o cavalo se formar por ele mesmo, e não forçá-lo à atingir níveis, não existe isso. Vamos transportar para outro meio. Se você pegar um juvenil de 14 anos, medicá-lo para ganhar musculatura e empurrá-lo para a divisão superior, vai arrebentar o atleta. O mesmo exemplo para qualquer outro esporte. Agora, em qualquer outro esporte, essa formação é feita por técnicos e aqui são feitas pelo dono do cavalo, ou pelo cavaleiro do cavalo.

Como for a sua formação? Quando iniciei, para começo de conversa, tínhamos muito respeito pelo instrutor e pelo seu superior, coisa que não existe mais hoje. Depois fui para a Europa. Hoje crio cavalos. Um dos melhores cavalos que o Rodrigo tem nasceu na nossa casa; hoje tenho cerca de 10 cavalos criados em casa.


Percebemos na sua clinica que o senhor enfatiza muito condução. Nota-se, também, que a grande dificuldade não é saltar, mas conduzir o cavalo... É um esporte que são dois, um animal vivo entre as pernas e um cavaleiro. Um tem que comandar o outro; o cavaleiro tem que comandar o cavalo, então, para isso, tem que se acreditar nisso e trabalhar esse ponto para desenvolver essa parte. É a parte, digamos, menos agradável do esporte que é esse plano de preparação, mas extremamente importante. Aqui as pessoas só gostam de saltar. Você olha para os picadeiros e estão todos vazios, porque não tem assistência. Chega aqui, aqui a pista cheia de gente saltando.

Como avalia o desempenho dos cavalos Lusitanos no Adestramento das Olimpíadas? Acho um grande esforço dos criadores. Eles criam por uma grande paixão a esse tipo de cavalo, mas é uma disciplina na qual estão longe de chegar a emparelhar com os cavalos holandeses e alemães. Isso vai ser uma missão muito dura.

Para finalizar, qual a grande lição que o senhor aprendeu desse convívio com os cavalos durante tanto tempo? O cavalo ensina a você muita coisa. O cavalo é o melhor professor de modéstia a humildade. Você está contando com o cavalo, mas chega na competição e ele mostra a você que não é bem aquilo, que você não está no ponto. É preciso paciência.. paciência.. Você tem sempre que aprender algo a mais, para poder compreendê-lo entendê-lo. Os cavalos falam, escutam, se manifestam.. Cavalo é uma criança e faz uma atividade para a qual não feito para isso. Não foi para carregar um homem e saltar obstáculo. O cavalo é um grande mistério, eterno segredo.

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