terça-feira, 1 de março de 2011

CROSSROADS

É uma verdadeira encruzilhada, mas ainda existe uma solução, ela está bem ali, é só olhar o simples e perseguir a renovação, através da observação do que ocorre no mundo e principalmente o que ele pedirá dos criadores de cavalos na próxima década.
Aproveitar os acontecimentos neste principio de ano no seio da raça em termos mundiais, poderá fornecer a partida para uma nova etapa no desenvolvimento desta extraordinária raça de cavalos, a qual todos os cavaleiros e amazonas que a conhecem gostam. Fazer conhecer as qualidades deste cavalo, montando-o torna-se a única arma real a ser usada.
Por décadas afirmou-se ser este o cavalo de melhor “montabilidade”. Para quem teve a possibilidade de compará-lo com outras raças, principalmente com os cavalos de origem warmblood europeus, sabe que esta afirmação é verdadeira, mas quantos cavaleiros tiveram esta possibilidade e vou mais longe ainda, quantos criadores ou assessores equestres tiveram esta sensibilidade de comparação para afirmar tal verdade?
No Brasil estes cavaleiros e amazonas cabem em duas mãos, no máximo. Poucos saberão traduzir o que é uma boa “montabilidade”. Resumindo; é a sensação que o cavalo transmite ao cavaleiro quando é montado e exigido, começando por seu conforto nas ondas emitidas descontraidamente por sua coluna, sua sensibilidade ao quadro das ajudas e por fim a sua resposta mental aos exercícios propostos e conseqüente execução, sendo o conjunto das impressões apresentados com atitude, calma, impulsão, força e absoluta sujeição ao cavaleiro. Quanto melhor estes fatores apresentarem-se, melhor é o cavalo, melhor a sensação, mais confortável é a equitação aplicada.
Para atingirmos este estágio demanda disciplina e não ultrapassar de forma alguma a escala de trabalha universal preconizada pela FEI, a qual é corretíssima, assim como o desenvolvimento muscular do individuo que gradualmente permitirá uma sustentabilidade equilibrada de seu esqueleto, fortalecendo as suas conexões, assegurando-se o ritmo e transformando-o em cadência, aonde na linguagem eqüestre usa-se o nome de Rassembler (a descontração de todos os músculos em dinâmica).
Em poucas palavras esta é a solução eqüestre para buscarmos a diferenciação, mas nos falta a outra parte de uma mesma situação, o cavalo que permita a realização deste objetivos técnicos teóricos, o qual jamais será atingido na vida deste animal, o que deixa tudo mais divertido e passível única e exclusivamente da analise visual ou sensitiva para buscarmos no dia a dia a progressão dos milhares de detalhes que circundam a vida externa e interna de um cavalo, o ser mais sensitivo que conheci em minha vida, mesmo tendo nascido na África, rodeado de chimpanzés e elefantes.
Para entendermos melhor todo o processo, temos de analisar o começo de tudo, a criação genética do individuo. É nesta fase aonde normalmente encontramos as maiores dificuldades, devido múltiplos fatores sendo o maior o histórico de erros já cometidos pelo produtor e a falta de capacidade de renovação e reconhecimento dos possíveis erros já cometidos, o tal do descarte. Sempre mais com mais dá mais, mas quando falamos de cavalos esportivos no PSL, alguns fatores elementares terão de ser conservados e outros ampliados. Não conheço ainda na raça o cavalo ou égua que possa minimizar o percentual de desacertos, mas alguns podem minimizar se partirmos de uma base correta. “No legs, no horse”. Precisamos de cavalos fortes de membros, sendo este detalhe o mais importante, pois a raça não nos foi ofertada com esta qualidade pelos portugueses, associando a isso terem necessariamente de serem membros os quais permitam o cavalo chegar a uma altura ideal de 1.63m. a 1.65m. Outro aspecto e de grande importância com uma forte interligação com a longevidade de uso do produto são os aprumos. Éguas frágeis neste conjunto de analise terão de ser montadas se permitirem e descartadas como animais de montaria ou trabalho, mesmo se tratarem de animais bonitos, de boa impressão visual, melhor será para comercializá-las. Nos garanhões, este tipo de problema é ainda mais importante. Tudo nasce de como o cavalo apóia os seus membros no solo. Este detalhe único é aonde baseio o meu pensamento de que exposições de raça deverão ter juízes que tenham como fator primário de seleção e premiação cavalos corretos zootécnicamente, sem falar é claro das aprovações de garanhões aonde deveremos ser ainda mais severos, aumentando o valor da esportividade.
O segundo ponto é o balanceio ou melhor o equilíbrio das formas e como eles funcionam em dinâmica. Todos os cavalos em estação são bons e bonitos, os problemas só existem quando eles movimentam-se. Quando falamos em balanceio de certo estamos nos referindo a coluna e pescoço. Éguas com pescoços medianos, grosseiros terão de ser evitadas ao máximo. Na boa equitação o pescoço é fundamental para obtermos a descontração necessária. É sinônimo de beleza absoluta de uma égua um bom pescoço airoso, entre o PSI e o Warmblood, com boas saídas de nuca e peitorais. Éguas sem pescoço são descarte absoluto. Coluna é no cavalo de esporte o aspecto mais importante a analisar e a parte que maior quantidade de informações poderá trasmitir. Ela representa a conexão dos membros posteriores e os anteriores e é dela que provém a sustentabilidade da montabilidade. Se existe um aspecto o qual busco é a felinidade da coluna de um cavalo, algo com uma relação próxima com a do leopardo, com flexibilidade lateral e longitudinal de fácil percepção, sem que para isso ela deixe de ser sólida e atlética, nem curta (comum na raça), nem longa (proveniente de cavalos de tração). Toda a musculação do rim do cavalo é de grande importância nesta analise. Uma boa coluna poderemos observá-la com exatidão com o cavalo ou égua em liberdade desde cedo. Beleza absoluta é quando o cavalo consegue libertar o seu movimento para a frente, sentindo a facilidade de colocar seu pescoço ou para a esquerda ou para a direita sem perder a ritmo dos andamentos, assim como levantar e descer o pescoço, mantendo o ritmo do movimento para a frente. Esta coordenação motora normalmente fornece uma informação muito útil na analise do conjunto, quando trabalhamos quatro fatores simultaneamente, calma, descontração, observação aos elementos externos e coordenação motora na manutenção do ritmo. Animais com deficiências nestas áreas, mesmo que sejam de grau mediano, devem ser descartados, machos ou fêmeas. Devemos lembrar que um bom cavalo PSL sempre é um cavalo “Up Hill”, qualquer individuo que forneça alguma duvida neste ponto deve ser descartado da reprodução.
Os posteriores é outro foco de grande importância. Nem vou falar em aprumos, este aspecto é essencial e não negociável, um corvilhão vacilante, aberto ou fechado é passível de descarte. O posterior nasçe do bom funcionamento das conexões de rim do cavalo, ele desce por uma garupa, nem tanto QM e nem tanto PSA, mas vista de trás transmite uma impressão de poder e equilibrio de forças, de perfeito funcionamento motor. No PSL, os ângulos quando observamos lateralmente terão de ser de maior definição que em outras raças (fator a ser conservado na raça, custe o que custar), ligeiramente encorvilhado, o que de certo dará uma melhor sustentabilidade na reunião e na transformação de ritmo em cadência.
Andamentos, deixei por último por serem absolutamente dependentes de um bom esqueleto, ótimas conexões e equilíbrio das formas. O passo terá de ter felinidade e ser bem marcado, quatro tempos definidos com exatidão, com um ligeiro transpistar de um a dois cascos (atenção a não confundir um bom passo, com o passo tipo camelo), um bom passo nasce primariamente das ondas emitidas pela e na coluna, aonde o resultado final são os apoios no solo. O passo é o prelúdio do galope. No cavalo PSL o passo é um aspecto de seleção constante. A seleção desta qualidade é uma constante em todos os criadores no mundo que pretendem fazer a diferença e distinguirem-se. Pessoalmente, um bom passo é sinônimo de beleza absoluta. No esporte mais tarde será um divisor de águas, passo e piaffe nunca tiveram uma relação saudável, sendo que cavalo PSL sem piaffe de qualidade, não é um bom cavalo PSL.(Deixo esta frase ao vento!)
Trote é o mais simples de todos os andamentos. Quando olho um cavalo, não preciso de mais que cinco segundos para identificar um bom trote ou não. A primeira impressão é proveniente do sossego e ótima diagonalização dos dois tempos do andamento. Depois observo o funcionamento dos posteriores e sua conseqüência no movimento dos anteriores, se o cavalo ou égua sustenta-se nos posteriores e permitem desta forma a liberdade da ação dos anteriores, os quais no PSL terão de ser semi elevados, o que de certo trará brilhantismo e um diferencial até de “moda” (herança Totilas).É beleza absoluta quando sentimos que o movimento nasçe do uso de todas as conexões do corpo do cavalo, principalmente da coluna. É este sossego que mais tarde receberá o nome de cadência, na qual teremos uma melhor ou pior montabilidade que muito bem poderá ser traduzida em conforto para o cavaleiro.
O galope ultimamente tenho a primeira impressão sem olhar, apenas ouvindo. Só depois de ouvi-lo, olho para o cavalo. Se tocar forte no piso, pego a caneta e escrevo “patudo”, se não ouvir o seu pisar no solo coloco “leve”. O galope moderno é leve e de grande dinâmica, amplo, reto para a frente em absoluto sossego nos potros e cadência nos cavalos montados. Coisas precipitadas, rápidas, sem definição clara dos três tempos, para cima em vez de ser para a frente, mesmo em reunião são passíveis de descarte. Para alguém que vém do CCE, o galope bom é de beleza absoluta. Este andamento terá de ser cultivado desde sempre em qualquer cavalo que pretenda ser de qualidade. Todos os exercícios que promovam o bom equilíbrio no galope, aonde o cavalo possa usar o seu pescoço, por ser um andamento basculado, são de grande importância no desenvolvimento de um cavalo esportivo. Ir e vir sem resistências sempre foi um dos bons exercícios.
Aponto aqui alguns pensamento aonde colocam na mesa o que acredito ser o ideal para o cavalo PSL do Brasil. Instruir as pessoas em geral que o papel executado por juízes estrangeiros em nosso país em nada acrescenta na evolução do cavalo PSL no Brasil. Papeis é uma coisa e seleção é outra. Papeis temos de pagar mesmo e registrar em Portugal (ponto!) Agora seleção, temos de colocar a portuguesada na caravela (aquela que está em Porto Seguro mesmo) e mandar de volta para o velho continente. Básicamente nós não somos os Veigas (com seus cavalos estéricos), não somos os Andrades (com os seus cavalos pesados e muitos de tração). Nós somos independentes e sabemos claramente qual o caminho a seguir. Um Stud Book saudável é uma garantia comercial da maior importância, criar problemas com Portugal neste sentido poderá nos destruir mundo a fora. Eles deram claros sinais do que irão fazer, como sei que farão, pois já o fizeram com o México e por lá até hoje sofrem as conseqüências deste ato nefasto por parte do imperialismo português.
Se tivéssemos gente de coragem na frente do PSL no Brasil, nesta exposição de Maio de 2011, escolheríamos 5 juízes nacionais e nenhum estrangeiro. Os nomes são: Alexandre San Paulo (nos últimos anos tem andado pelo mundo, conhece cavalos e a história do PSL do Brasil) Elias Marinho (Parceiro no HM, um observador atento e extremamente honesto, cavaleiro de primeira grandeza) Cancela de Abreu (Na moda no Brasil, alta aceitação pela cúpula do PSL). Dr. Orfeu Ávila (adoro vê-lo nervoso) e quem lhes escreve aqui.
Seleção por comparação, sem perda de tempo em pontuar cavalos, agiliza o show. Na escolha dos 6 melhores, teria-se mais tempo para a explicações junto ao publico. O bom deste grupo de juízes é que todos são cobras criadas, ninguém irá liderar nada e o pau vai rolar, todos são profissionais.
O próximo texto irei desenvolver este pensamento sobre exposições da raça no Brasil, uma atividade que terá de permanecer e forte, porque é bom de se ver, é um show de cavalos lindos.

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